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Campina Grande, o berço do criptomessianismo (por Leônidas Mendes Filho)

Campina Grande, o berço do criptomessianismo (por Leônidas Mendes Filho)

Data de Publicação: 11 de maio de 2023 10:23:00
Por Redação
CANAL 2N

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No último fim de semana, Campina Grande foi notícia nacional. Desta vez, no Domingo Espetacular, revista semanal da TV Record, apresentada nas noites de domingo.

E outra vez por conta do esquema pirâmide financeira da Braiscompany.

Segundo a reportagem, o esquema “pode ter causado um prejuízo de quase 2 bilhões de reais aos investidores”, se assim podemos chamar aqueles/aquelas que em “busca de ganhos fáceis e estratosféricos” dispuseram-se a alimenta-lo.

Embora não tenha sido a primeira, a reportagem repercutiu na cidade com tamanha intensidade que até o casal fundador e proprietário da “empresa blockchain”, através de seu advogado, se pronunciou. Ao que parece, pedindo para não ser preso.

Mas, independentemente de qualquer coisa, a pergunta que fica é: como Campina Grande, noutros tempos exaltada “capital do trabalho”, se transformou num centro de difusão desses esquemas de criptomoedas, vez que a Braiscompany não era única?

Não creio que seja uma questão de fácil resposta.

Mas, de todo modo, um debruçar rápido na história da cidade talvez nos dê algumas pistas. Um exemplo: Campina Grande, na década de 1930, era famosa pela adesão de suas elites ao discurso fascista.

Argemiro Figueiredo, primeiro representante das elites campinenses a assumir o governo da Paraíba, entre 1935-1945, segundo o historiador José Otávio de Arruda Melo “era simpatizante do nazismo” a tal ponto que mandou colocar suásticas no piso do Palácio da Redenção.

Menciono isso, apenas para ilustrar o apego das elites campinenses a práticas e ideias, digamos, “fora do lugar” (ou “exóticas”? ou “coisa de maluco”? ou “sandices”, mesmo?), para não parecermos irônicos.

Mas, este caso não é único.

Campina Grande também foi palco do “último movimento messiânico do século XIX”, embora a tragicomédia tenha se dado nos fins da década de 1970: os “Borboletas Azuis” de Roldão Mangueira.

Para os que não conhecem a história, em meados de 1978, Roldão Mangueira anunciou que ocorreria um novo dilúvio maio de 1980, segundo mensagem que, dizia, recebera do próprio Cristo; e passou a alertar a população em peregrinações com seus seguidores pelas ruas centrais da cidade.

Quem vivenciou a época talvez se lembre como grande parte da população campinense se apavorou (ou aderiu?) diante da proximidade do “juízo final”!

Às vezes, penso que o “profeta azul” teria sido um ótimo “broker”! Já pensaram se, ao invés de uma seita messiânica, tivesse profetizado uma “blockchain”? Estaria no Qatar! E quantos conterrâneos não estariam no “paraíso do criptocapitalismo”?!

Nos meus devaneios cripto-sociológicos, concluo que não seja coincidência a inusitada, para dizer o mínimo, fusão, quase um sincretismo, que temos assistido em Campina Grande entre neopentecostalismo, gospelfascismo e comércio de criptomoedas.

Afinal, as três coisas são uma questão de fé!

Talvez, no futuro, historiadores e cientistas sociais, quando e se debruçarem ao estudo desse singular fenômeno sociopolítico-religioso, reclassifiquem a “Rainha da Borborema”: de capital do trabalho a berço do criptomessianismo!

Campina Grande sempre foi inovadora!

 

 

Leônidas Mendes Filho é historiador, professor e bacharel em Direito

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