EUA: epidemia de fentanil mata 1 pessoa a cada 7 minutos
Data de Publicação: 5 de junho de 2024 18:31:00
Por Redação
SPUTNIK NEWS
Cinquenta vezes mais potente do que a morfina, o fentanil ultrapassou a barreira da questão criminosa e se tornou um grave problema de saúde pública nos Estados Unidos. Da geografia de sua produção a questões governamentais norte-americanas, especialistas explicam o porquê desse cenário.
O que é o fentanil?
Carlos Lobbé, professor do MBA em Gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que o fentanil pertence à família dos medicamentos opioides: “É um parente da morfina, da heroína, da cocaína”.
Para atuar no cérebro, esses fármacos precisam passar pela barreira hematoencefálica, que separa o sangue e o cérebro. Por ser um opioide sintético, fabricado em laboratório, o fentanil tem grande sucesso ao fazer essa travessia, disse Lobbé. Isso faz com que ele provoque efeitos potentes de “alucinação, satisfação semelhante à heroína, à cocaína e outras drogas e fármacos opioides”.
Criado em 1968 pela Janssen, seu uso se destinava ao controle da dor aguda e crônica e anestesias. “Esses são os usos mais comuns, mas em dose menor ele também tem um reflexo no controle da tosse”, sublinhou. “Quem começou a usar de forma ilícita foram os próprios profissionais de saúde, porque tinham acesso à droga e sabiam que ela tinha esse potencial gigantesco”.
Hoje em dia, no entanto, o fentanil é mais usado na mistura com outras drogas como forma de potencializar a ação de drogas de baixa qualidade, explicou Lobbé.
Como o fentanil mata?
A cada sete minutos, uma pessoa morre por overdose ligada aos opioides, apontam autoridades dos Estados Unidos. Dessas, 70% são causadas pelo fentanil. Segundo Lobbé, o perigo dessa droga está em sua ação colateral em outros sistemas que não só o do prazer, como os que comandam a respiração e a frequência cardíaca.
Uma causa de morte comum ao usar a droga ocorre quando há uma queda muito severa de pressão, deixando o coração lento demais para bombear o sangue pelo corpo, uma condição chamada bradicardia.
Já no pulmão, o fentanil pode levar à depressão respiratória, quando a própria musculatura responsável pela respiração para de funcionar. Outro efeito que acontece é a rigidez da parede torácica, quando os músculos intercostais se contraem tanto a ponto de paralisarem.
“É como se a caixa torácica fosse congelada, impedindo de respirar. Aí não tem como evitar a morte. Paramos de respirar, é morte, não vai oxigenar os tecidos, vai morrer” , ressaltou Lobbé.
De onde vem o fentanil?
Ainda que seja consumido majoritariamente nos Estados Unidos, a droga consumida pelos usuários não tem origem nos laboratórios farmacêuticos norte-americanos. Pelo contrário, é traficada para dentro do país.
Dessa forma, ela segue a mesma rota da maior parte das drogas que entram no país: a fronteira com o México. “Em regiões no México em que você já tinha o controle do narcotráfico”, afirmou Marcelo Suano, professor de relações internacionais do Ibmec.
De acordo com o pesquisador, o narcotráfico no México é “uma espécie de empreendimento” e, como qualquer outro empreendimento capitalista, se move na direção de onde há o melhor mercado consumidor, isto é, “onde tem mais gente rica: Estados Unidos”, reforça Suano.
Só que, destaca Suano, o México não é o único produtor de fentanil. Boa parte da droga que vai parar na mão dos usuários estadunidenses vem do outro lado do mundo, da China. No país asiático, as empresas encontraram terreno fértil para a produção da droga graças à alta capacidade de fabricação e à inexistência de um mercado interno para consumo recreativo.
É a partir de dois momentos que o México surge na história, aponta Suano. O primeiro foi graças à expansão do consumo dos norte-americanos, criando uma demanda que passou a ser aproveitada pelos narcotraficantes mexicanos.
Já o segundo se deu quando o governo dos Estados Unidos tentou coibir a produção chinesa de fentanil, levando o problema para bem mais perto da fronteira norte-americana. Ao contrário do que conseguem fazer com outros países, contudo, a tentativa não frustrou totalmente as fábricas chinesas: “Não tem como tratar da mesma maneira com a China. A China é muito forte”, destaca.
(Com adaptações editoriais. Leia íntegra no Sputnik News – aqui)